Estou eu sossegadita no meu canto a brincar, e catapum! Uma linda tartaruga feita de Legos, uma obra de arte construída pela minha mamã para mim, é violentamente atirada ao chão! Ok, violentamente é capaz de ser exagerado, vá lá, é atirada com determinação (tá melhor assim?) ao chão por quem? Pela minha irmã mais nova, que só tem 11 meses, mas que já é capaz de causar as maiores destruições! Ok, destruição também é forte... já é capaz de fazer estragos significativos (que picuinhas que vocês são!).
Eu sei que ela não faz por mal (pelo menos os meus pais dizem que ela não faz de propósito...), mas eu vi-a a sorrir quando utilizou as suas armas de destruição maciça - os braços - e, de uma só vez, arremessou para o chão a minha linda tartaruga, snif, snif. É só uma construção de Legos, mas fiquei muito triste. Eu gostava daquela tartaruga de Legos. Estava espectacular! E agora, como vou viver sem ela, inteira?
O quê? Podemos construir outra? A sério? Igual?!? A sério?!? IUPIIIII!
Mas mamã, fica mesmo igual? É que eu gostava muito daquela tartaruga... E agora se construirmos de novo, já vai ser outra... não é a mesma...
Pois, eu sei que esta minha conversa roça o filosófico, seja lá o que isso for, mas não deixa de ser verdade: não vai ser a mesma tartaruga, é uma segunda versão, feita num segundo momento.
Pois, eu sei que estas minhas preocupações podem parecer insignificantes para vocês, adultos, que têm de se preocupar com ir para o trabalho, ganhar dinheiro, pagar as contas... eu não tenho essas preocupações, tenho outras: brincar, divertir-me, basicamente, ser feliz. Só isso. Não é muito. Mas é essencial. E aquela tartaruga fazia-me feliz, pois foi feita pela minha mamã, exclusivamente para mim. E era linda.
Quanto à minha irmã, foi mais um acto de liberdade quase anárquica consumado: chegou ao quarto, pôs-se em pé apoiada na mesa, fixou o alvo e foi-se a ele, sem dó nem piedade. Fez o que lhe apeteceu. Sem consequências. Para ela.
Eu cá fico a apanhar as peças.
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