18 novembro 2009

EU SOU A PRINCESA E TU O URSO

"(..) o infantário não organiza apenas a festa de Carnaval, existe também a festa de Natal, para a qual os pais são convidados a participarem. Pode fazer-se uma pequena peça de teatro, na qual os miúdos participam, mas as personagens mais complexas e de suporte à peça de teatro, são desempenhadas pelos pais. Ora, para quem não ligava nada ao Natal e às suas tradições, participar numa peça de teatro sobre o Natal, habilitar-se a fazer “figura de urso”, como se costuma dizer, à frente de uma cambada de desconhecidos e alguns familiares (os avós e tios podem assistir…) é igual a colocarmo-nos à beira de um precipício e… darmos um passo em frente! O que fazemos pelo nosso bebé! Ainda por cima, está tudo filmado, para mais tarde recordarmos a tamanha vergonha e embaraço que sentimos na altura, quando estávamos no palco, a rezar para que não fizéssemos asneira! Mas é tudo em prol do mais tarde ele vai ver, e como se vai rir quando vir estas filmagens e fotografias!

E como ainda é pequeno, o bebé não tem noção do que se passa, nem das figuras tristes que os seus pais fazem. Quando o mascaramos no Carnaval, a manifestação possível da sua parte é um sorriso, de mera solidariedade para com os pais (porque vê os pais frenéticos de alegria, enquanto lhe vestem uma roupa… que ele por acaso ainda não tinha visto, parece-lhe mesmo boa para bolçar um bocado de leite… quando tiver oportunidade, vai experimentar) e na festa de Natal do infantário, não sabe onde está, não sabe porque é que os pais não estão com ele e ao invés estão a fazer umas coisas esquisitas que ele nunca tinha visto, em cima de um palco. Depois vão ter com ele e perguntam-lhe então, gostaste de ver os papás no teatrinho, gostaste? Bem, uma coisa de cada vez, pensa o bebé, em primeiro lugar, o que é um “teatrinho”? E em segundo lugar, era para eu gostar não estar ao colo da minha mamã e gramar os apertos exagerados e os aconchegos asfixiantes da avó, com medo que eu caísse ou apanhasse uma corrente de ar?

É incrível a facilidade com que adoptamos os rituais que antes abominávamos. Pelo nosso bebé estamos dispostos a fazer as figuras mais tristes, com o propósito de enriquecer a sua vida. E a sua própria vida, queremos acreditar, ficará também mais rica com a experiência de se mascarar de Zorro ou Princesa. No mínimo, divertimo-nos a fazê-lo; no máximo o nosso bebé divertir-se-á quando vir as figuras tristes que os pais fizeram. Afinal, fazer figura de urso será sempre um preço insignificante a pagar pelas nossas princesas e destemidos heróis... (...)"
Excerto do livro "Sou Mãe! E Agora?"

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